A revista Outubro já estava em fase adiantada de edição quando as torres do World Trade Center ruíram, depois de dois ataques terroristas bem sucedidos. Os atentados nos Estados Unidos constituíram-se em acontecimentos de caráter histórico, com desdobramentos que poderão influir sobre a situação política internacional nos próximos anos. O ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão, e o elevadíssimo custo em vidas humanas dele decorrente, é apenas o primeiro elo dessa cadeia de desdobramentos.
A revista Outubro, coerente com sua vocação, não poderia ignorar esses acontecimentos. Decidimos, então, fazer modificações na pauta inicial, incluindo novos artigos que abordassem a presente situação mundial. Um atraso no lançamento deste número foi o preço que precisamos pagar, mas certamente os leitores ganharão uma revista mais atualizada e instigante.
Edward Saïd, o renomado crítico literário de origem palestina abre a presente edição denunciando as conseqüências dos acordos de Oslo, assinados entre o governo israelense e a OLP, de Yasser Arafat, para a vida dos palestinos. Saïd tem sido uma voz dissonante no cenário internacional, contrapondo-se a falsa paz entre árabes e judeus.
A seguir, Edmundo Fernandes Dias, Alvaro Bianchi analisam criticamente a repercussão dos atentados nos Estados Unidos e a guerra no Afeganistão. Rompendo com a análise superficial que tem caracterizado a mídia brasileira, os autores procuram iluminar os aspectos ideológicos e estratégicos da presente situação. Esses artigos são completados por um estudo de Claude Sefarti, sobre as relações existentes entre a indústria bélica e o processo de mundialização do capital.
O artigo de Eliane Arenas Mora sobre as políticas de formação sindical e a utilização de fundos públicos, em especial o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), aborda tema candente e de grande repercussão no movimento sindical. As recentes denúncias de desvio, por parte da Força Sindical, de recursos desses fundos, dão relevância ainda maior ao artigo.
Silvia Miskulin e Luiz Bernardo Pericás, trazem a este número duas importantes contribuições para o estudo da revolução cubana. O primeiro artigo apresenta o intenso debate cultural existente em Cuba logo após a revolução e a criação de uma política oficial que retirou grande parte do potencial artístico criativo dos primeiros anos. Pericás, por sua vez, analisa as complexas relações existentes entre Che Guevara e as idéias políticas de Leon Trotsky. Ambos estudos fogem das falsas dicotomias que têm caracterizado o debate sobre Cuba, contribuindo de maneira original para sua compreensão.
As repercussões no Brasil da Comuna de Paris, cujo aniversário foi comemorado este ano, é o tema de artigo de Marcelo Badaró. Pesquisando jornais do século XIX e início do século XX, Badaró mostra o medo, o ódio e a repulsa que a Comuna despertou na burguesia local, bem como a admiração e o respeito que produziu entre os trabalhadores brasileiros.
Encerra a seção de artigos um estudo de Henrique Carneiro, sobre a proibição do consumo de drogas no mundo contemporâneo. Com a contribuição de Carneiro, Outubro, traz á luz um tema marginalizado pelo pensamento socialista, reafirmando o caráter crítico e provocador da revista.
A todos, desejamos uma boa leitura.
Edward Said (Columbia University, Estados Unidos)
Justiça Infinita: um Strangelove
Edmundo Fernandes Dias (Unicamp)
Os neocruzados: a guerra no Afeganistão e nov ordem mundial
Alvaro Bianchi (Umesp)
O braço armado da mundialização
Claude Serfati (Université Saint-Quentin-en-Yvelines, França)
Tensões na formação profissional da CUT e na disputa dos fundos públicos
Eliane Arenas Mora (UFF)
A política cultural no início da Revolução Cubana: o caso do suplemento cultural Lunes de Revolución
Sílvia Cezar Miskulin (USP)
Che Guevara e o trotskismo na América Latina
Luiz Bernardo Pericás (USP)
Marcelo Badaró Mattos (UFF)
As necessidades humanas e o proibicionismo das drogas no século XX
Henrique Carneiro (USP)