Manifesto Editorial
Outubro, revista do Instituto de Estudos Socialistas
Na resposta permanente à crise do capital, o movimento dos trabalhadores vem retomando, neste final de século, a possibilidade de exercer seu protagonismo histórico e superar a ofensiva ideológica que teve sua origem na derrocada dos regimes do Leste europeu.
Mas a atual ofensiva ideológica anti-socialista ainda está longe de ter se esgotado. O domínio ideológico da burguesia sobre o movimento popular continua determinando a agenda do movimento social.
A falência das formas estatais perversamente chamadas de “socialismo real”, produziu um abalo profundo em muitos daqueles que se situavam no campo do socialismo. Não foram poucos, entretanto, os que, no interior da esquerda, abandonaram seus antigos projetos e aderiram às idéias que anteriormente negavam. Confundindo o socialismo com a ideologia e as práticas vividas na antiga União Soviética e no Leste europeu, parte da esquerda tendeu a assimilar a concepção de democracia que encerra a luta dos trabalhadores nos marcos da legalidade burguesa, atrelando-os politicamente à classe dominante. Denunciaram o fracasso de tais estados como prova da impossibilidade do próprio socialismo. Não se pode, entretanto, atribuir àquelas experiências históricas um caráter socialista. Elas reproduziram formas de exploração e de dominação em tudo estranhas e antagônicas a uma transformação socialista da sociedade.
No lugar do socialismo a burguesia e seus novos admiradores colocaram a livre-concorrência e a fé no empresário, porta-voz da racionalidade do mercado. Ao invés da organização independente dos trabalhadores, o respeito aos parlamentos e o direito de escolher, periodicamente, a fração da classe dominante que governará. Na bandeira, antes vermelha, inscreveram sua nova palavra-de-ordem: todo poder ao mercado.
O que para eles está em questão é a própria possibilidade de ultrapassar as fronteiras do capitalismo, afirmada pela Revolução Russa de 1917. Não há, contudo, qualquer fundamento racional que suporte tal posição.
A ofensiva anti-socialista torna-se, desse modo, perfeitamente inteligível: ela é parte integrante da luta da classe burguesa contra as classes trabalhadoras, para desarmá-las teórica e politicamente. Tanto a ilusão da liberdade quanto o uso de procedimentos os mais coercitivos são fórmulas estratégicas de realização desse enfrentamento. A eterna exaltação burguesa do Homem e da sua Liberdade não nos deve fazer esquecer que a burguesia combate o socialismo em nome da sua própria racionalidade: para ela tudo se traduz em uma única e exclusiva intenção, a de prosseguir eternamente o processo de valorização do capital.
Para os trabalhadores, para todos aqueles que sofrem a exploração e a opressão burguesas, que suportam a brutal violência do capital, no entanto, o socialismo permanece como projeto e como arma. Permanece porque a classe operária necessita compreender, fora da representação da liberdade burguesa, as razões de suas condições de existência, para que se possa superar o processo de valorização do capital e, assim, construir seu projeto de sociedade.
O socialismo pode então ganhar todo o seu sentido e toda a sua atualidade. É a partir de um projeto de transformação socialista que se pode fazer a crítica conseqüente do capitalismo e criar as condições de sua ultrapassagem revolucionária. Só através desse projeto, as classes trabalhadoras poderão subtrair-se ao domínio ideológico da burguesia.
Não basta, porém, uma situação de crise do capitalismo para que possamos fazer sua superação histórico-concreta. Faz-se necessária a construção tanto da organização independente dos trabalhadores, quanto da direção intelectual e política que, com o movimento real das classes trabalhadoras, poderá fazer a análise e trabalhar as estratégias para tal superação revolucionária. Ora é exatamente sobre essas questões que, mais e mais, incide a dominação burguesa.
Face à crise capitalista, evidenciada no momento atual pelo debilitamento da estratégia neoliberal e pelo crash das bolsas, abre-se um período de crises políticas nacionais. Um amplo campo de intervenção prática e teórica está posto para aqueles que recusam a paralisia imposta pelo pensamento dominante: a análise da crise do capitalismo e do modelo neoliberal; a análise crítica das tradições social-democratas e estalinistas que prevaleceram no campo da esquerda; o resgate histórico das experiências revolucionárias; o questionamento da democracia burguesa; as transformações no processo de trabalho e a história do movimento operário.
A capacidade interpretativa e transformadora do pensamento socialista coloca-se cada vez mais atual. A construção de uma revista integrada às discussões teóricas e ideológicas fundamentais do debate contemporâneo, é uma necessidade real e premente. Uma revista de intervenção, aberta à colaboração de militantes e intelectuais comprometidos com a luta pelo socialismo, atenta à unidade indissolúvel entre teoria e prática, audaz e inovadora no confronto com as novas problemáticas colocadas pelo desenvolvimento do capitalismo e pela luta de classes, informada pela tradição clássica do pensamento socialista, despida de todo dogmatismo. Um veículo ativo na luta ideológica, que se proponha a enfrentar a contra-ofensiva ideológica imposta nesse terreno pelo domínio capitalista. Sua vocação é a de se consolidar como uma ferramenta de discussão e de formação teórico-política daqueles sujeitos sociais comprometidos com a atualização do pensamento socialista. Outubro será um canal de discussão e difusão do pensamento socialista inscrito no contexto do IES.